Temos nos deparado com varias pressões psicológicas decorrentes da constante incerteza de como será o amanhã?
Desde crise climática, sanitária, económica, terrorismo, guerra a lista parece não ter fim.
Não há como evitar que mais cedo ou mais tarde, por mais otimista que sejamos, deixaremos transparecer nossas angústias e preocupações para os mais pequenos.
Aqui em casa evitamos nos sobrecarregar com excesso de informações a fim de proteger nossos filhos e a nossa mente.
Penso que é importante ser parte da solução, como agentes de mudança.
Canalizar energia e olhar nosso entorno para melhorá-lo já é um bom começo.
Lembrar que o impacto destas pressões sobre as crianças é ainda mais devastador nos faz ter mais consciência de ajudá-los a reconhecer as emoções e como lidar com elas.
Neste sentido, sugiro alguns questionamentos:
As crianças devem ouvir e participar tão cedo de assuntos e decisões que cabem aos adultos?
Devemos evitar expô-las à temáticas e informações incompatíveis ao grau de compreensão que possuem?
Como podemos ajudar nossos filhos a ter uma infância saudável do ponto de vista mental?
Não é de conhecimento de todos, mas há um elevado número de crianças em estado de sofrimento, desenvolvendo depressão, síndrome do pânico, terror noturno, ansiedade e doenças auto-somáticas em decorrência desta exposição constante a assuntos que não lhes deveria dizer respeito.
Não sou apologista de encerrar as crianças numa bolha, onde os problemas não chegam até elas. Assisto pacientemente o esforço de alguns pais que criam um mundo de fantasia que até pode funcionar por algum tempo dentro de casa, onde tudo é permitido, a fim de evitar a frustração; onde a bondade e o amor reina soberano. Todavia, a vida real não é assim. Ela é feita de ganhos e perdas, de momentos felizes e tristes, de diversidade e regras.
Quem conhece crianças sabe que elas absorvem tudo e aprendem desde cedo o que pode e o que não pode, com quem pode medir forças ou não e a dinâmica da vida.
Quando nos pergunta algo, é importante acolher a questão, tentar compreender o contexto e estar pronto para ajudá-la a encontrar uma resposta. Seus anseios são tão importantes quanto os nossos.
Vejo nas histórias e brincadeiras infantis a oportunidade de desenvolver a maturidade e fortalecer as crianças. Mas, qual criança ouve histórias que possibilitem lidar com as angustias internas? Qual criança brinca com outras crianças sem interferência dos adultos, resolvendo seus próprios conflitos em jogos que a fazem perceber o outro, perceber que ora se ganha e ora se perde. Esta interação vai prepará-la para a vida.
Vivenciar no imaginário as dificuldades, conquistas, sofrimentos e alegrias da vida através do sofrimento de uma personagem contribui para o desenvolvimento da inteligência emocional. E depois estas vivencias fictícias e experiências emocionais, serão reportadas para a vida cotidiana.
Falar sobre temas conflitantes, se vierem à tona ou forem provocados, tais como: fome, abandono, morte, guerra, rivalidade, preconceito, é um recurso poderoso. Conheça seu filho, e escolha materiais de acordo com a faixa etária dele. Leia antes, tente compreender a mensagem e se ela realmente faz sentido e é coerente com seus valores.
Para os pais: Adoro o filme do Italiano Roberto Begnini, La vita è bella, cujo pai protege o filho do horror do holocausto, fazendo-o acreditar que estão vivendo um jogo. O protagonista ofereceu ao filho a oportunidade de viver aquela tragédia da melhor forma possível. É apenas um filme, uma comédia dramática e que provavelmente dificilmente numa situação real seria possível. Mas, não se esqueça as crianças são seres que deveriam se ocupar de brincadeiras, de arte, de cultura, de leitura, de sonhos e fantasias próprios desta fase de desenvolvimento. Sinto muito pelas crianças que estão vivenciando na pele tanta crueldade. Não existe justificação para o que elas estão vivendo e infelizmente haverá marcas que precisarão ser trabalhadas. Nunca em tão pouco tempo tantas pessoas precisaram abandonar suas vidas.
Para os filhos: O livro Dois Monstros (David Mckee), fala sobre intolerância também de forma lúdica de falar sobre o assunto. Ao clicar no nome do livro pode ouvir a história narrada, pois o livro está esgotado.