Hoje venho relatar uma experiência com desejo (sonho) que o Víctor vivenciou há alguns meses e que nos surpreendeu e nos encheu de alegria depois de tantos nãos!
Ele sempre teve o sonho de conhecer um estádio. Moramos por seis anos no Porto e toda vez que passávamos perto do estádio do Dragão ele pedia para entrar. Cheguei a ir ao estádio três vezes com ele. Chegava na bilheteria, explicava as limitações do meu filho e questionava se ele poderia apenas ver o relvado, eu pagaria para entrar, se fosse necessário. Não sei agora, mas naquela tempo eles funcionavam apenas com sistema de visitas em grupo. O tour pelo estádio tinha um custo e ocorria apenas na companhia de um guia, que depois ainda passava pelo museu que lá existe. A visita tinha uma duração especifica e um certo número de pessoas. Desta forma, o Victor não iria tolerar e causaria desconforto para as pessoas do grupo, além de ficar irritado e não aproveitar o momento.
A resposta era sempre a mesma:
- Compreendemos, mas não podemos fazer de outra forma. Vínhamos embora com o não. Meu intuito com este post não é de modo algum depreciar o clube, mas chamar a atenção para a necessidade de se adequar para a todos sem distinção tenham acesso a ele. Instituições como estas deveriam se preparar para receber este público específico. Se ainda não houver esta preocupação que passem a ter, pois, pessoas com diversidade funcional também adoram futebol e, tal como as demais, querem se sentir acolhidas.
Não nos deixamos abater e não permitimos que a vontade de entrar num estádio desaparecesse, pois não tiramos a esperança do nosso filho. Dissemos que no momento certo aconteceria.
Há cerca de um ano mudamos para Guimarães e o Víctor identificou o estádio rapidamente, mesmo com toda dificuldade visual que possui.
Em janeiro, fui com ele ao estádio que estava com uma porta aberta. Perguntei a uma senhora que trabalhava no prédio, se eu poderia entrar para mostrar o campo para meu filho. Ela disse que poderíamos subir as escadas e ver o campo através de um vidro lá no alto.
Eu, otimista que sou, pensei; vamos, com certeza ele vai conseguir ver alguma coisa. Subimos as escadas com cuidado, outra senhora veio ter connosco, eu perguntei se poderia chegar até o vidro para vermos o campo. Ela concordou e abriu uma porta para que ele tivesse uma visão melhor, pois percebeu que ele tinha dificuldade visual.
Durante o tempo em que estivemos ali, ele estava muito feliz, mal conseguia conter os movimento involuntários nas mãos e pernas. Eu ia falando o que via e apontava com o dedo e ele tentava ver. Sua expressão era muito feliz!
Quando estávamos indo embora, um senhor nos acompanhou para abrir a porta e questionou se ele gostaria de ver o relvado mais de perto. Não imaginam a alegria e a surpresa que tivemos.
Passamos pela tribuna onde os jogadores dão as entrevista, onde ele até sentou para tirar uma foto, depois pelo refeitório, pela entrada dos jogadores até chegar no relvado.
O Victor só não teve oportunidade de correr pela relva, porque ela estava em tratamento. Mas, ficou maravilhado com tudo o que viu. Depois ainda foi ver o autocarro do Club. Desde então, o Vitória Esporte Club tem sido o grito de guerra do Victor, meu vitorioso!
Victor lidou com muitos nãos e quando recebeu um sim, assim tão expontâneo foi tremendo.
Perceber as limitações de uma pessoa, e proporcionar a ela realizar seus sonhos é algo tão importante, não só para a pessoa, mas para aqueles que convivem com ela. Aquele senhor deve ter sentido a energia e sentimento de gratidão presente naquele momento.
Percebi no clube Vitória em Guimarães esta preocupação com a inclusão.
No início da próxima temporada vamos nos organizar para ir com toda a família ver o time a jogar. A Mira vai junto, o Víctor já escalou ela para este evento...rs e, o clube já deu carta verde!
Meus filhos tem muitos sonhos. Fico tão feliz por vê-los se permitirem sonhar, e se visualizarem mentalmente realizando algo.
Os sonhos são ótimos para ajudar uma criança no processo de amadurecimento, não só a criança, mas as pessoas no geral, em qualquer idade. Através deles aprendemos a lidar com as emoções, definir estratégias, gerir o tempo, elaborar um plano de ação, gerir expectativas, frustrações, se tornar resiliente e gozar a conquista numa realização.
O Victor é uma criança mais sensível que as demais e, lidar com a frustração para ele é muito difícil, mas nem por isso eu o super protejo, pois é na vivência que ele vai aprendendo a lidar com os conflitos internos.
Conto histórias onde as personagens se frustam, para que ele experimente na imaginação a situação que a personagem está a viver. Ele adora histórias. Aproveito para enfatizar e chamar a atenção dele para alguns fatos quando termino a história, ou relaciono com algo que ele já vivenciou na vida.
Se permita sonhar acordado e realize seus sonhos, faça o mesmo com seus filhos, isto dá sabor a vida!